quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Quatro princípios para o mundo aberto



1. Colaboração
2. Transparência
3. Compartilhar
4. Empoderamento





Transcrição

Abertura. É uma palavra que denota oportunidade e possibilidades. Final aberto, coração aberto, código aberto, política de portas abertas, open bar. (Risos)

E por todo lado o mundo está se abrindo, e isso é bom.

Por que isso está acontecendo? A revolução tecnológica está abrindo o mundo.

A Internet de ontem era uma plataforma para apresentação de conteúdo. A Internet de hoje é uma plataforma computacional. A Internet está se tornando um computador global gigantesco, e toda vez que você entra, publica um video, faz uma busca no Google, você faz um remix de algo, você está programando este grande computador global que todos compartilhamos. A humanidade está construindo uma máquina, a isso nos permite colaborar de novas maneiras. A colaboração pode acontecer em proporções astronômicas.

Agora uma nova geração está abrindo o mundo também. Comecei a estudar crianças 15 anos atrás, -- na verdade 20 anos agora -- e notei como minhas próprias crianças eramcapazes de usar esta sofisticada tecnologia sem esforço, e, de início, pensei, "Meus filhos são prodígios!" (Risos) Mas então notei que todos seus amigos eram como eles, então essa era uma teoria ruim. Então comecei a trabalhar com algumas centenas de crianças, e cheguei à conclusão de que esta é a primeira geração a amadurecer na era digital, a banhar-se em bits. Eu os chamo Geração em Rede. Eu disse, essas crianças são diferentes. Elas não temem a tecnologia, porque ela não está lá. É como o ar. É algo assim: eu não tenho medo de uma geladeira. E -- (Risos)

E não há força mais poderosa para mudar todas as instituições do que a primeira geração de nativos digitais. Sou um imigrante digital. Precisei aprender a linguagem.

A crise econômica global está abrindo o mundo também. Nossas instituições opacas da Era Industrial, tudo o que veio de velhos modelos corporativos, governo, mídia, Wall Street,estão em vários estágios de encalhe ou congelamento ou em atrofia, ou mesmo caindo, e isso está criando uma plataforma em chamas no mundo. Quero dizer, vejam Wall Street. O núcleo do modus operandi de Wall Street quase trouxe abaixo o capitalismo global.

Vocês conhecem o conceito de uma plataforma em chamas, estar num lugar onde os custos de permanecer parado são maiores que os custos de mudar para algo diferente,talvez radicalmente diferente. E precisamos mudar e abrir nossas instituições.

Então este impulso tecnológico, um chute demográfico de uma nova geração e a pressão pela procura de um novo ambiente econômico global está fazendo o mundo se abrir.

Agora, acho, de fato, que estamos num ponto de virada na história humana, em que podemos finalmente reconstruir muitas das instituições da Era Industrial baseados em um novo conjunto de princípios.

Agora, o que é abertura? Bem, como se vê, abertura tem muitos significados diferentes, e para cada um existe um princípio correspondente para a transformação da civilização. A primeira é colaboração. Agora, isso é abertura no sentido das fronteiras das organizações tornando-se mais porosas e fluidas e abertas.

O cara nesta foto, vou contar sua história. Seu nome é Rob McEwen. Gostaria de dizer, "Eu tenho este grupo de estudos, nós percorremos o mundo atrás de fantásticos estudos de caso." A razão de eu saber sua história é porque ele é meu vizinho. (Risos) Ele mudou-se para a casa em frente a nossa, e deu uma festa para conhecer os vizinhos, e ele diz, "Você é Don Tapscott. Li alguns de seus livros." Eu disse, "Ótimo. O que você faz?" E ele diz, "Bem, eu costumava ser banqueiro e agora sou minerador de ouro." E ele me conta esta história fantástica. Ele adquire uma mina de ouro, e seus geologistas não conseguem dizer a ele onde está o ouro. Ele dá a eles mais dinheiro para dados geológico, eles voltam, eles não conseguem dizer a ele onde a produção deveria acontecer. Após alguns anos, ele está tão frustrado que está pronto para desistir, mas um dia tem uma epifania. Ele imagina, "Se meus geologistas não sabem onde o ouro está, talvez outra pessoa saiba." Então ele faz uma coisa "radical". Ele pega seus dados geológicos, publica-os e monta um concurso na Internet chamado Desafio Goldcorp. É basicamente um prêmio de meio milhão de dólares em dinheiro para quem pudesse dizer se eu tenho algum ouro, e se sim, onde está? (Risos)

Ele recebe concorrentes de todo o mundo. Eles usam tecnologias das quais ele nunca ouviu falar, e por meio milhão de dólares em um prêmio, Rob McEwen encontra o equivalente a 3,4 bilhões de dólares em ouro. O valor de mercado de sua empresa vai de 90 milhões a 10 bilhões de dólares, e posso dizer, porque ele é meu vizinho, ele está extasiado. (Risos)

Vocês sabem, a sabedoria convencional diz que o talento está dentro, certo? Seus mais valiosos bens saem pelo elevador toda noite. Ele viu o talento diferentemente. Ele imaginou, quem são seus pares? Ele deveria ter demitido seu departamento de geologia, mas não o fez. Sabe, algumas das melhores submissões não vieram de geologistas. Elas vieram de cientistas de computação, engenheiros. A ganhadora foi uma empresa de computação gráfica que construiu um modelo tridimensional da mina em que você pode sobrevoar a mina subterrânea e ver onde está o ouro.

Ele nos ajudou a entender que a mídia social está se tornando produção social. Não se trata de mantermos contato online. Este é um novo meio de produção sendo criado. E esta "Ideágora" que ele criou, um mercado aberto, "ágora", para mentes unicamente qualificadas, foi parte de uma mudança, uma mudança profunda na complexa estrutura e arquitetura de nossas organizações, e como nós meio que orquestramos aptidões para inovar, criar bens e serviços, para nos engajarmos com o resto do mundo, em termos de governo, como criamos valor público. Abertura tem a ver com colaboração.

Em segundo lugar, abertura tem a ver com transparência. Isso é diferente. Aqui, estamos falando sobre comunicação de informação pertinente às partes interessadas das organizações: empregados, clientes, parceiros comerciais, acionistas, e por aí vai.

E por todo lado, nossas instituições despem-se. As pessoas ficaram atordoadas com o WikiLeaks, mas aquilo é só a ponta do iceberg. Sabe, as pessoas agora têm ao seu alcance, todos, não apenas Julian Assange, estas ferramentas poderosas para descobrir o que está acontecendo, examinando, informando aos outros, e até mesmos organizando reações coletivas. As instituições estão se despindo,

e se você vai se despir, bem, existem algumas condutas que devem ser seguidas. Digo, uma delas é, a boa forma não é mais opcional. (Risos) Sabe? Ou, se vai ficar nu, é melhor criar músculos.

Agora, por músculos, quero dizer bons valores, porque valores são evidenciados como nunca antes. Se você diz ter bons produtos, é melhor que sejam. Mas você também precisa ter valores. Você precisa ter integridade como parte de seus ossos e seu DNA, enquanto organização, porque senão, será incapaz de construir confiança, e confiança é um "sine qua non" neste novo mundo em rede.

Então isso é bom. Não é ruim. A luz do sol é o melhor dos desinfetantes. E precisamos de muita luz do sol neste mundo problemático.

Agora, o terceiro princípio da abertura diz respeito a compartilhar. O que é diferente de transparência. Transparência diz respeito à comunicação da informação. Compartilhar diz respeito à doação de bens, de propriedade intelectual.

E existem todo tipo de histórias conhecidas sobre isso. A IBM ofereceu 400 milhões de dólares em software para o movimento Linux, e isso proporcionou-lhes um lucro multi-bilionário.

A sabedoria convencional diz "Ei, nossa propriedade intelectual pertence a nós, e se alguém tenta infringir, vamos acionar nossos advogados e vamos processá-los." Bem, não deu muito certo para as gravadoras, não é? Digo, eles tomaram -- eles sofreram um rompimento tecnológico, e ao invés de realizar uma inovação no modelo de negócio para responder a isso, eles buscaram uma solução legal e a indústria que nos trouxe Elvis e os Beatles está agora processando crianças e está em perigo de colapso.

Então precisamos abordar a propriedade intelectual de forma diferente.

Vou dar um exemplo. A indústria farmacêutica está em grandes problemas. Primeiro, não têm havido grandes invenções na linha de montagem, e isso é um grande problema para nossa saúde, e a indústria farmacêutica tem um problema maior ainda, ela está prestes a cair de algo chamado penhasco das patentes. Sabem o que é isso? Eles vão perder de 20 a 35 por cento de sua receita nos próximos 12 meses. E o que vamos fazer, tipo, economizar em clipes de papel? Não.

Precisamos reinventar todo o modelo da pesquisa científica. A indústria farmacêutica precisa transformar ativos em bens comuns. Precisam começar a compartilhar pesquisas pré-competitivas. Precisam começar a compartilhar dados de análises clínicas, e, ao fazer isso, criar uma onda crescente que possa desencalhar todos os barcos, não apenas pela indústria, mas pela humanidade.

Agora, o quarto significado de abertura, e princípio correspondente, diz respeito ao empoderamento. E eu não estou falando sobre o sentido maternal. Conhecimento e inteligência são poder, e quando tornam-se mais distribuídos, acontece distribuição concomitante e descentralização e desagregação de poder que está a caminho no mundo de hoje. O mundo aberto está trazendo liberdade.

Vejam a Primavera Árabe. O debate acerca do papel das mídias sociais e a mudança social terminou. Sabe, uma palavra: Tunísia. E acabou gerando um bando de outras palavras também. Mas na revolução da Tunísia, as novas mídias não causaram a revolução;ela foi causada pela injustiça. As mídias sociais não criaram a revolução; ela foi criada por uma nova geração de jovens que queriam emprego e esperança e não queriam mais serem tratados como sujeitados.

Mas assim como a internet diminui custos de transações e colaboração nos negócios e no governo, também baixa o custo de dissidência, de rebelião, e mesmo de insurreição de maneiras que as pessoas não entenderam.

Sabe, durante a revolução da Tunísia, atiradores associados ao regime matavamestudantes desarmados nas ruas. Então os estudantes usavam seus dispositivos móveis,tiravam fotos, triangulavam a posição, mandavam aquela foto a unidades militares amigáveis, que entravam e capturavam os atiradores. Acham que as mídias sociais só servem para encontros online? Para essas crianças, era uma ferramenta militar para defender pessoas desarmadas de assassinos. Era uma arma de auto-defesa.

Sabe, enquanto estamos aqui hoje, jovens estão sendo mortos na Síria, e até três meses atrás, se você fosse ferido na rua, uma ambulância iria lhe socorrer, levá-lo ao hospital, e você entraria, digamos, com uma perna quebrada, e sairia com uma bala na cabeça.

Então esses jovens de vinte e poucos anos criaram um sistema de saúde alternativo, em que usavam Twitter e outras ferramentas básicas abertas ao publico e quando alguém se feria, um carro apareceria para buscá-los, os levaria a uma clínica improvisada, onde teriamtratamento médico, ao invés de serem executados. Então este é um momento de grande mudança.

Agora, não é livre de problemas. Até dois anos atrás, todas as revoluções da história tinham lideranças, e quando caía o antigo regime, a liderança e a organização tomariam o poder. Bem, essas revoluções "wiki" acontecem tão rápido que criam um vácuo, e políticos abominam vácuos, e forças insalubres podem preenchê-los, tipicamente o antigo regime,ou forças extremistas, ou fundamentalistas. Podemos ver isso acontecendo no Egito, hoje.

Mas não importa, porque o movimento está acontecendo. O trem deixou a estação. O gato saiu do saco. O cavalo está na chuva. Vocês entenderam. (Risos) A pasta de dente saiu do tubo. Digo, ninguém consegue colocar de volta. O mundo aberto está trazendo poder e liberdade.

E acho que, ao final desses quatro dias, vocês concluirão que o arco da história é positivo, e mira a abertura.

Se voltarmos algumas centenas de anos, no mundo todo a sociedade era muito fechada.Era agrária, e os meios de produção e o sistema político era chamado feudalismo, e o conhecimento era concentrado na igreja e na nobreza. As pessoas não sabiam das coisas.Não havia o conceito de progresso. Você nascia, vivia a sua vida e morria.

Mas então Johannes Gutenberg apareceu com sua grande invenção, e, através do tempo, a sociedade abriu-se. As pessoas passaram a aprender sobre as coisas, e quando o fizeram,as instituições da sociedade feudal pareceram encalhadas, ou congeladas, ou em colapso.Nào fazia sentido à igreja ser responsável por medicamento quando as pessoas tinham acesso ao conhecimento.

Então vimos a Reforma Protestante. Martin Luther chamou a imprensa de "o maior ato de graça de Deus." A criação de uma corporação, a ciência, a universidade, finalmente a Revolução Industrial, e tudo isso foi para o bem.

Mas veio com um preço.

E agora, novamente, o gênio da tecnologia está fora da garrafa, mas desta vez é diferente.A imprensa nos deu acesso à palavra escrita. A Internet permite a cada um de nós que sejamos produtores. A imprensa nos deu acesso ao conhecimento registrado. A Internet nos dá acesso, não apenas à informação e ao conhecimento, mas à inteligência contida nos crânios de outras pessoas globalmente.

Para mim, esta não é a Era da Informação, é uma era de inteligência em rede. É uma era de vastas promessas, uma era de colaboração, em que as fronteiras de nossas organizações estão mudando, de transparência, em que a luz do sol está desinfetando a civilização, uma era de compartilhamento e entendimento do novo poder do povo, e é uma era de empoderamento e de liberdade.

Agora, o que eu gostaria de fazer é, para fechar, compartilhar com vocês um pouco da pesquisa que venho fazendo. Tenho tentado estudar todos os tipos de organizações para entender como se delineia o futuro, mas tenho estudado a natureza recentemente.

Sabe, abelhas vêm em enxames e peixes, em cardumes. Estorninhos, ao redor de Edinburgh, nas regiões inóspitas da Inglaterra, vêm em algo chamado murmúrio, e o murmúrio se refere ao som da asas dos pássaros, e através do dia, os estorninhosespalham-se através de uma área de 32 km de raio cuidando de suas vidas. E à noite eles reúnem-se e criam uma das coisas mais espetaculares de toda a natureza, e chama-se murmúrio. E cientistas que estudaram isso dizem que nunca houve um acidente. Agora, isso tem uma função. Protege as aves. Podem ver que à direita há um predador sendo afugentado pelo poder coletivo dos pássaros, e aparentemente isso é uma coisa assustadora se você é um predador de estorninhos. E há liderança, mas nenhum lider único.

Agora, esta é uma analogia extravagante, ou poderíamos realmente aprender algo disso?Bem, os murmúrios funcionam através de um número de princípios, e são basicamente os mesmos que descrevi a vocês hoje. Essa é uma colaboração enorme. É uma abertura, um compartilhamento de todos os tipos de informação, não apenas de posição e trajetória e perigo, e demais, mas de fontes de alimento. E existe um verdadeiro sentimento de interdependência, que os pássaros, de alguma forma, entendem individualmente de que seus interesses são de interesse do coletivo.

Talvez como devamos entender que os negócios não podem ter sucesso em um mundo que está em colapso.

Bem, eu olho para isto, e eu tenho um monte de esperança. Imaginem as crianças hoje na Primavera Árabe, e vejam que algo como isso está acontecendo.

E imaginem, apenas considerem a ideia, se puderem: E se pudéssemos nos conectar neste mundo através de uma vasta rede de ar e vidro? Poderíamos ir além de apenas compartilhar informação e conhecimento? Poderíamos começar a compartilhar nossa inteligência? Poderíamos criar algum tipo de inteligência coletiva que vá além de um individuo, ou um grupo, ou um time para criar, talvez, algum tipo de consciência em escala global? Bem, se pudermos fazer isso, poderíamos atacar alguns grandes problemas do mundo.

E eu olho para isto, e, não sei, me encho de esperança de que talvez este mundo menor, em rede, aberto habitado por nossas crianças, pode ser melhor, e que esta nova era de inteligência em rede possa ser uma era de promessas cumpridas e perigos que não se confirmem.

Vamos fazer isso. Obrigado. 

(Aplausos)

por Don Tapscott

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